Há alguns dias atrás estava numa farmácia e ouvi quando
um homem muito bem vestido pediu um nebulizador, a farmacêutica perguntou qual
o modelo ele desejava e ele respondeu o mais caro. Parece que se queremos mostrar que nos importamos, que damos valor, nos propomos a pagar o mais caro. Na hora eu me lembrei de um
triste episódio que narro no tão esperado livro que tanto falo neste blog, para
não ficar muito longo vou tentar reduzir.
“no dia 13 de Janeiro de 2012 nos reunimos
para comemorar o aniversário do meu cunhado Renato. No meio da reunião eu senti
meu lábio inferior esquerdo dormente, como se tivesse comido pimenta. Não dei
muita importância, achei que no dia seguinte teria passado, não passou, piorou.
A dormência só foi aumentando, passou para o queixo, só no lado esquerdo. Fazia
uma peregrinação diária a uma gama de médicos e dentistas, era ADM (articulação
têmporo-mandibular), depois me corrigiam dizendo que era DTM (distúrbio
têmporo-mandibular), cheguei há passar 12 horas fora de casa entre exames e
consultórios médicos. Ninguém descobria o que eu tinha, eu não sentia nada a
não ser esta dormência. Claro que fui direto ao Dr. Mário (meu oncologista),
que me pediu para fazer um exame de punção de liquor lombar e para ir a um bom
neurologista. Engraçado que para algumas especialidades “bom” significa caro e
sem agenda e nunca atende pelo plano de saúde. Era o caso deste sujeito,
neurologista consagrado, escreve professor no cartão de visita já que é
professor da UFRJ. A consulta na época era R$700,00, muito, muito cara mesma,
mas foi um pedido do Dr. Mário, não questiono. Só que apesar de caro o médico
ainda atrasa para caramba e acabou que ficou inviável para o Fernando( meu
marido ) me esperar, ele iria comigo, tive que ir sozinha.
Entrando expliquei o que estava
acontecendo, mostrei a ressonância do crânio, que estava normal e fui levada a
uma maca onde ele fez um exame com um bastão gelado, ele tocava uma parte do
meu corpo e perguntava se eu estava sentindo, é claro que na parte do meu
queixo eu não sentia. De repente ele se levanta com uma cara de sabe tudo e diz
que já tem o meu diagnóstico,_ nossa, ainda bem. Só que ele não falou comigo,
foi direto falar com o meu médico. Comecei a prestar mais atenção quando ele
disse que era numb chin syndrom em português seria algo como síndrome do queixo
dormente, ele completou que algumas sessões de radioterapia deveriam resolver. EU PIREI. Pedi para falar com o Dr.
Mário, marquei uma consulta com ele no dia seguinte, não me lembro direito o
que mais foi dito, só me lembro de perguntar se aquele médico tinha certeza do
que ele estava dizendo. O tal sujeito me olhou com um olhar frio e disse que
ele tinha câncer de pâncreas, a mulher dele tinha tido câncer de mama e todos
enfrentaram com coragem e que eu deveria fazer o mesmo, como se eu não
enfrentasse os meu problemas, só que eu já havia enfrentado dois. Falei para
ele que nunca fugi das minhas doenças, mas achava que já tinha me protegido,
achei que tinha aprendido a fortalecer meu corpo e que não iria passar por tudo
aquilo novamente, saí arrasada.
No dia seguinte o fofo do
Fernando não foi trabalhar me disse que ira passar o dia comigo, gostoso. Me
levou para almoçar fora e na hora da consulta com o Dr. Mário estava comigo.
Dr. Mário é muito sério normalmente, mas comigo não, a Socorro ,que trabalha
com ele, um dia brincou que vai mandar
um gravador para a minha consulta para mostrar aos outros pacientes que ele ri,
mas neste dia não teve risos. Ele logo me perguntou porque eu não havia feito o
exame de punção lombar que estava agendado, eu disse que o médico renomado que
havia ido , o tal neurologista bam bam bam, disse que não precisava. Ele não
gostou e ligou para o laboratório marcando para o dia seguinte
Bom, acordei e fui fazer o tal
do exame, nada agradável, enfiam uma agulha na sua espinha e puxam o tal
líquido. Você tem que ficar imóvel porque se balançar a pessoa pode errar e um
estrago vai sair caro. Não pode voltar dirigindo, tive que voltar praticamente
deitada no carro porque como faz um furinho tem o risco de sair líquido ou
entrar líquido sei lá, só sei que pode dar uma dor de cabeça horrível, cefaleia
como dizem os médicos, graças a Deus eu não tive nada. No mesmo dia recebi o
resultado parcial negativo, Dr. Mário me ligou pessoalmente para dizer que
haviam ligado do laboratório dizendo que não foram encontradas células
neoplásicas. Sexta-feira dia 17 já estava fazendo o PET scan e é claro mais
tensa aguardando o resultado. Mais uma vez tive resposta no mesmo dia e mais
uma vez negativo, nada de células
malucas no meu corpo. Dr. Mário, mais uma vez, me ligou e como estava com a
passagem comprada para viajar para os EUA minha pergunta foi logo se estava
liberada e ele com um tom aliviado respondeu que sim, disse que não tinha com o
que me preocupar que já tinha descartado qualquer tipo de recidiva. Só pensava
naquele idiota que apesar de ter visto o meu exame com o laudo de normal me deu
o diagnóstico de câncer com um simples exame de tato e por perguntas que me
fez, é confiar muito no taco dele. Mas eu não consegui sossegar, tinha que
dizer para ele que ele não podia enlouquecer as pessoas desta maneira, por isto
enviei um e-mail que a diferença entre Deus e alguns médicos é que Deus sabia
que não era médico, mas alguns médicos não sabiam que não eram Deus.
Eu fiquei indignada, mas tirei
algumas lições, o fato de ser careiro não garante que o cara seja bom, às vezes
pode cobrar caro e nem por isto ser bom. Mesmo que o cara seja o bam bam bam,
não deixe de fazer um exame marcado, ele vai falar muito mais de você do que
apenas um exame clínico e confie nos seus instintos
Aprendi
que a empatia entre médico e paciente é vital. Dr. Mário Alberto é um excelente
médico, renomado, com certeza, mas independente disto é a pessoa que eu confio.
Tenho lido sobre o assunto e pelo que entendi esta relação é tão forte que
existe melhora até com pacientes que estão recebendo tratamento com placebo.
Procure
o melhor para você, não é o mais caro, é o que te atende melhor.
Saúde.
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